Tudo começou há pouco mais de 3 anos, quando entrei na sala de parto do hospital, pronta para conhecer minha neta recém-nascida pela primeira vez. Eu podia ouvir minha filha chorando de felicidade, o som de vozes e o movimento das enfermeiras e médicos na sala. E quando alguém, com tanto carinho, colocou minha netinha de apenas alguns minutos de vida nos meus braços, foi como se o tempo tivesse parado. Imediatamente, pude sentir a suavidade inacreditável de sua pele e o calor intenso que ela exalava, como uma pequena fornalha em meus braços. Era um momento de pura emoção, um dos mais especiais da minha vida. Ela foi minha primeira neta. Minha filha escolheu o nome Anna, em homenagem à minha mãe, que já havia falecido, e foi uma forma linda de celebrar o legado da nossa família. Aquele momento, com certeza, mudaria tudo para mim.

E quando minha filha me perguntou: "Ela não é linda, pai?"

Tudo o que eu pude fazer foi mentir.

"Ela é perfeita", eu disse, tentando esconder o desespero.

A verdade é que eu não conseguia ver o rosto da minha neta de jeito nenhum. Na verdade, eu mal conseguia ver qualquer coisa ao meu redor. Tudo o que eu via eram manchas escuras e nuvens, como se minha visão estivesse sendo tomada por uma névoa densa, um reflexo das minhas cataratas sempre persistentes e da degeneração da minha visão ao longo dos anos.

Eu ainda sentiria falta dela a vida inteira. Embora aquele fosse para ser um dos momentos mais felizes da minha vida, uma emoção indescritível, o que eu realmente sentia era uma tristeza profunda. Eu estava começando a aceitar que, talvez, eu nunca mais veria as coisas com clareza novamente. Estava ali, no momento mais especial, e mal conseguia enxergar a beleza que estava diante de mim. A visão que tanto havia perdido estava me roubando a experiência mais pura e gratificante da vida.